LIVE NIRVANA INTERVIEW ARCHIVE October 29, 1992 - Buenos Aires, AR

Interviewer(s)
Eva Joory
Interviewee(s)
Krist Novoselic
Publisher Title Transcript
O Globo A Conspiração Grunge Yes (Português)

Depois do disse-me-disse, está finalmente certo. O Nirvana toca no Hollywood Rock em janeiro, notícia confirmada anteontem pelo próprio baixista e fundador da banda, Chris Novoselic. Ele falou pelo telefone ao GLOBO com exclusividade de Buenos Aires, onde a banda se apresenta durante o fim de semana, como atração principal do Coca-Cola Rock Festival. O show do Nirvana cria as maiores expectativas do Hollywood Rock, que este ano vem com força total, trazendo grupos pesados como Alice In Chains e Red Hot Chilli Peppers.

O sucesso chegou ligeiro; de uma hora para a outra o mundo inteiro se interessou em ouvir a música do Nirvana, a banda mai8s falada e cultuada do momento. Vários grupos foram na cola do Nirvana e Seattle passou a ser sinônimo de sucesso. A grande vitória de Kurt Cobain, Chris Novoselic e David Grohl foi ter conseguido fazer sucesso por seus próprios méritos, sem favores, planos ou estratégias mirabolantes de gravadoras. Para Novoselic, a receita não tem segredos:

Novoselic: Não houve uma teoria a ser seguida, nem uma conspiração, foi inexplicável. Tão inexplicável que, inicialmente, a gravadora (Geffen) mandou prensar somente 40 mil cópias do disco.

O Globo: Quais as suas expectativas para tocar no Brasil ao lado de bandas como L7 e Alice In Chains? Você sabe que o Nirvana é considerado a maior atração?

Novoselic: Não tinha a mínima ideia. Não temos nenhuma expectativa. Para nós é mais um país, mais um lugar diferente para se conhecer. Espero que possamos nos divertir. Essas bandas que você citou são legais, mas não estamos preocupados com isso, não vamos tocar com eles.

O Globo: O que fez vocês se mudarem para a Geffen? Não estavam satisfeitos com a Sub Pop?

Novoselic: Foi um problema de distribuição. As gravadoras independentes ainda não tem uma distribuição que permita aos grupos uma expansão necessária. Depois de “Bleach”, a única cosia que queríamos era nos sentir seguros, o que é impossível numa gravadora independente. Também há o fato de sermos obrigados a lidar com inúmeros problemas que não queríamos. E se o Sonic Youth conseguiu, então porque não nós?

O Globo: Se “Bleach” fosse lançado por uma gravadora grande, você acha que teria tido o mesmo sucesso de “Nevermind”?

Novoselic: Sem dúvida não ia ser esse fenômeno. “Bleach” não é tão acessível quanto “Nevermind”. É mais rasgado. “Nevermind” é mais doce. Acho é normal acontecer essa mudança, é como um ritual que temos que passar depois que nosso orçamento triplica. A mudança nos suavizou.

O Globo: O que significa grunge exatamente?

Novoselic: É uma palavra bastante desgastada hoje em dia. Mas suponho que seja o rock que nós, Mudhoney e TAD estamos fazendo, um som mais puxado para as guitarras, mais cru, mais orgânico.

O Globo: Vocês tiveram influências do punk?

Novoselic: Totalmente. Kurt e eu crescemos ouvindo punk, Sex Pistols, Butthole Surfers e Scratch Acid.

O Globo: Você acredita que agora existe o “som de Seattle”?

Novoselic: Acredito, mas não sei o que isso significa realmente. Muitas bandas pegaram carona nesse movimento. O verdadeiro som de Seattle é Mudhoney, TAD, Soundgarden e nós.

O Globo: O Ministry acusou Seattle de ter se tornado uma grife. Concorda?

Novoselic: Totalmente! Virou um produto de consumo, é como “hoje aqui, amanhã não mais!”. Mas eu não tenho medo disso ser uma moda passageira, não pretendo ficar 20 anos explorando o som de Seattle. Na indústria só existe interesse financeiro. Tudo pode ser resumido em duas palavras: vendas e dinheiro. Até o nome do nosso trabalho é diferente. São meras unidades. Isso diz tudo.

O Globo: O que vocês acharam do filme “Singles”. É verdade que tiraram vocês da trilha sonora?

Novoselic: Isto não passa de besteira! Não queríamos fazer parte dessa trilha sonora, “Singles” é um filme totalmente ridículo e débil, não passa de uma história de amor ambientada em Seattle. O diretor foi muito esperto, pegou um tema atual, hip e desenvolveu. As bandas que participaram só queriam se promover e virar big stars.

O Globo: É verdade que Slash e Axl Rose quiseram tocar com vocês?

Novoselic: Eles queriam que fizéssemos uma turnê com eles. Mas não gosto do Guns N’ Roses. Eles são muito interesseiros. E parecem ridículos com aquela orquestra de 40 músicos. Eles são o Emerson Lake and Palmer dos anos 90, não queremos ter nada a ver com eles.

O Globo: Vocês consideram política importante? Recentemente participaram da turnê “Rock for choice” ao lado do L7.

Novoselic: O importante no “Rock for choice” não foi só a questão feminina, mas todos os direitos humanos. Não sei se as pessoas na América Latina são conscientes, mas aqui nos EUA todos são apáticos e, se não são empurrados, não fazem nada. Por isso acho importante a campanha “Rock the vote” que a MTV lançou. Não defendemos nenhum tipo de ideia, somos uma banda de rock, mas é importante ensinar as pessoas que elas podem se livrar de fascistas que ficam querendo regular suas vidas. Considero meu dever ajudar as pessoas.

O Globo: Como está o andamento do novo disco?

Novoselic: Está bem. Devemos lança-lo no começo do ano que vem. Precisarei de mais tempo para falar sobre ele, e agora tenho que ir. Na verdade acho mesmo é que não quero falar dele.

© Eva Joory, 1992